O Falar em Línguas

  • Imprimir
Partilhar no Chuza!Partilhar no DoMelhorPartilhar no La TafaneraPartilhar no ZabalduPartilhar no AupatuPartilhar no MenéamePartilhar no TuentiPartilhar no Buzz it!Partilhar no Digg it!Partilhar no FacebookPartilhar no TwitterPartilhar no Cabozo

Uma das doutrinas mais difundidas e confundidas em nossos dias é a doutrina do falar em línguas diferentes das nossas. Os movimentos responsáveis pela sua difusão costumam destacar que o ato de falar em línguas é um sinal da presença do Espírito Santo na vida de tal pessoa, entendendo ser essa manifestação o momento em que se dá o batismo com o Espírito Santo.

Os seguidores dessa linha de compreensão são hoje conhecidos como pentecostais. Na outra vertente estão aqueles que discordam desse posicionamento e que tem um posicionamento mais ortodoxo, acreditando que o batismo com o Espírito Santo se verifica no momento em que a pessoa aceita a Jesus como seu único Salvador e Senhor. Pretendemos, nesta reflexão abordar alguns aspectos referentes a esta doutrina do “falar em línguas” à luz dos textos sagrados, com o objetivo de fortalecer as convicções que temos como crente neotestamentário a respeito dessa temática e de tirar possíveis dúvidas que ainda possam existir em relação ao tema.

1. O início da prática como doutrina cristã. Antes de subir aos céus, Jesus dera orientações expressas aos seus discípulos para que permanecessem em Jerusalém até que recebessem o poder do Espírito Santo que haveria de vir ao mundo em seu lugar, permanecendo com eles até a sua volta do reino dos céus (Lc 24:49). A partir daí, os discípulos deveriam ser suas testemunhas por toda a terra (At 1:8).

Então os discípulos ficaram reunidos em Jerusalém e, no dia de Pentecostes, deu-se uma manifestação extraordinária que conferiu grande poder a todos eles, levando-os “a falar em outras línguas”. Essa foi a primeira manifestação do Espírito Santo (At. 2:1-4). A manifestação especial de chegado do Consolador se deu de duas formas: a) na primeira, os discípulos falavam em outras línguas, de forma milagrosa (At 2:4); b) na segunda, as pessoas que afluíram para ver oq eu estava acontecendo passaram “cada um” a ouvir os discípulos falando “na sua própria língua”, também milagrosamente (At 2:6-12). Ocorreu dois milagres: o de falar numa língua diferente da sua e o de ouvir alguém falando numa língua diferente da materna.

2. A natureza das línguas faladas e ouvidas na manifestação do Espírito Santo. É de observar que as línguas faladas não são especificadas em At 2:4. Ali se diz apenas que falavam em outras línguas. Já em At. 2:6 e segs., temos um esclarecimento de que as línguas ouvidas eram as línguas naturais das pessoas ouvintes, ou seja, eram línguas conhecidas de alguém: partos, medos, elamitas, judeus, cretenses, arábios, romanos, etc.. Jesus dissera que os seus discípulos haveriam de falar em novas línguas (Mc 16:17).

Mesmo depois dessa primeira manifestação, outras pessoas também falaram em línguas quando o Espírito Santo se manifestou em suas vidas (At 19:6).

3. O Espírito Santo se manifesta de muitas formas. Em Hb 1:1, se diz que Deus falou aos homens muitas vezes e de muitas maneiras. Deus é Espírito (Jo 4:24). E a Bíblia relata em diversas passagens algumas das manifestações do Espírito que são evidenciadas como dons dados aos homens (Jr 32:17; 1 Co 12:28, Ef 4:11; Gl 5:22-23). Como se pode ver, o dom de falar em línguas se encontra entre os dons do Espírito Santo dado aos homens, mas, como está dito, nem todas as pessoas tem os mesmos dons, o que nos leva a concluir que o falar em línguas foi dado alguns e não para todos (1 Co 12:30).

4. Todos os dons tem um propósito determinado. Diz a Bíblia que os dons foram dados com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o serviço. Tanto o falar em línguas, como qualquer outro dom é como se fosse uma ferramenta de trabalho que Deus, pelo seu Espírito, nos dá, para que possamos realizar a Sua obra. A sua utilização é, portanto, de natureza prática. Tem que ter um proveito (1 Co 14:6). Se tenho que falar com alguém que não fala a minha língua, então o Espírito me permite aprender novas línguas que serão utilizadas no ministério. No início isso foi feito de forma miraculosa em relação a algumas pessoas, mas não em relação a todas (Cf. Ef 4:12; 1 Co 14:6, 23).

Paulo destaca que falava em muitas línguas (14:18). Paulo era um doutor da lei, um estudioso. Conhecia, com certeza, mais de uma língua, tanto é que falou aos gentios. É provável que um dos fatores que levou Jesus a escolhe-lo foi justamente o fato de lhe ter sido dada esta preparação prévia. Paulo foi um vaso escolhido (At 9:15). E é ele mesmo que diz, exemplificadamente, que os dons devem ser buscados, aprendidos e desenvolvidos (1 Co 14:39). E um detalhe, o dom de falar em línguas não é colocado como o mais importante dos dons.

5. A disciplina relativa ao falar em línguas. Também é importante que entendamos a forma como Deus opera. Ele não é um Deus de confusão (Rm 5:5; 1 Co 14:13). Sua obra não deve ser feita de qualquer maneira, indisciplinada (Jr 48:10). Tanto este, quanto qualquer outro dom, deve ser exercido com zelo e disciplina, por Deus é zeloso (Ex 20:5; Jo 2:17; Rm 12:8; 1 Co 12:31;14:1, 39). Assim, diz a Bíblia que todos devem aprender e desenvolver o dom de falar em línguas, para falar quando for oportuno, mas o mais importante é profetizar (1 Co 14:5). Em cada ocasião que falem apenas dois ou três (1 Co 14:27) e somente quando houver intérprete, alguém que conheça aquela língua e possa traduzi-la para os demais. Se não para beneficiar os ouvintes, a pessoa não deve falar (1 Co 14:28). O ato de falar em línguas não é para a glória do falante, mas para o cumprimento de uma missão. Se toda a platéia fala e entende português, qual é a necessidade de se falar em inglês?

6. A cessação do falar em línguas por meio do Espírito Santo. Diz a Bíblia que muitos dons perderão sua utilidade com o passar do tempo. E entre esses é colocado o dom de falar em línguas por meio de manifestação especial do Espírito Santo (1 Co 13:8). Hoje, qualquer pessoa pode aprender uma língua estranha, bastando estudar.
O Espírito Santo não está a serviço de nossos interesses pessoais, para satisfazer os nossos deleites e prazeres (2 Tm 3:2-4; Tt 3:3; Tg 4:1, 3). Ele está no mundo para fazer a obra redentora de Deus em face do homem pecador. Sua missão principal é convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo divino (Jo 16:8-9). Deus não faz aquilo que Ele já nos deu capacidade para fazer. A sua principal obra em nossas vidas é nos capacitar, destacando-se que os dons nos foram dados como meios de capacitação para a realização de sua obra (Ef 4:12).

7. O batismo com o Espírito Santo. Nós acreditamos no que diz a Palavra. Que o Espírito de Deus se manifesta em nossa vida, quando nós nos decidimos a aceitar a Jesus. É ele que nos convence de que somos pecadores (Jo 16:8-9) e nos leva a reconhecer que Jesus é o Senhor (1 Co 12:3). Diz a Bíblia que nós, ao aceitarmos a Jesus, nós somos selados com o Espírito Santo da promessa (Ef 1:13). Além disso, o próprio Senhor Jesus disse que o novo nascimento é obra do Espírito Santo (Jo 3:3-7).

Conclusão. O falar em línguas na igreja, não deve ser proibido (1 Co 14:39), mas também não deve ser ensinado como uma rotina, porque somente deve ser usada essa prática, quando ela for necessária e nas condições estabelecidas na Bíblia. Foi a primeira forma de manifestação do Espírito Santo quando Ele chegou à Terra, mas não podemos reduzir a manifestação do Consolador a apenas essa forma. Ele não veio aqui para nos ensinar outras línguas, mas para nos capacitar a continuar a obra redentora de Deus, levando a mensagem de salvação ao mundo e ensinando a todos a guardarem a Palavra de Deus. Se o falar em línguas não tem esse propósito, então não é coisa de Deus e deve ser uma prática coibida, mediante a ação julgadora dos irmãos (1 Co 14:29).

Eis a razão porque nós não damos tanta ênfase ao ato de falar em línguas e porque damos mais importância à pregação do evangelho e ao ensino da Palavra do que ao falar em línguas. Conservamos os ensinamentos da igreja neotestamentária, quando o movimento pentecostal, que surgiu em 1906, em Los Angeles, EUA, ainda não era uma realidade tão generalizada. Nesse sentido, pode-se dizer que somos ortodoxos, haja vista que seguimos, rigorosamente os princípios doutrinários estabelecidos pela Igreja do Novo Testamento.